A Substância Primordial e o Pensamento Divino

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Se nos voltarmos para as “Leis (ou Decretos) de Manu” descobriremos o protótipo de todas estas ideias. Maioritariamente perdidas (para o Mundo Ocidental) na sua forma original, desfiguradas por interpolações e acréscimos mais tardios, têm, contudo, conservado bastante do seu Espírito ancestral para nos mostrar o seu caráter. “Dissipando as trevas, o Senhor autoexistente” (Vishnu, Narayana, etc) manifestou-se, e “desejando produzir seres da sua Essência, criou, no início, somente água. Nela, lançou a semente… Essa tornou-se Ovo de ouro.”

 De onde provém este Senhor Auto-existente? É chamado ISTO e é referido como “Escuridão, impercetível, sem qualidades definidas, indetetável como se totalmente adormecido”. Tendo habitado nesse Ovo por um completo ano divino, esse “que é chamado no mundo de Brahma”, divide esse Ovo em duas partes, e da parte superior ele forma o firmamento, da parte inferior a terra,  e do meio o céu e “o local perpétuo das águas”.

Mas, seguindo diretamente estes versos, há algo mais importante para nós, já que corrobora completamente os nossos conhecimentos esotéricos. Dos versos 14 ao 16, a evolução é apresentada pela ordem descrita na filosofia Esotérica. Isto não é passível de ser facilmente dado como adquirido. Mesmo Medhatithi, o filho de Viraswamin e o autor do Comentário, “o Manubhâsya”, datada de acordo com Orientalistas Ocidentais, de 1000 da nossa era, ajuda-nos com os seus comentários à elucidação da verdade. Ele mostrava-se relutante em reportar mais, porque sabia que a verdade teria de ser salvaguardada do profano ou então porque estaria realmente confuso. Ainda assim, o que ele reporta torna o princípio septenário nos homens e na natureza suficientemente simples. 

Comecemos pelo capítulo I. dos “Decretos” ou “Leis” depois de o Senhor Auto-existente, o não manifestado Logos das “Trevas” Desconhecidas se manifestarem no Ovo de Ouro. É partindo deste Ovo de Brahma:

(11.)  que é a causa indistinta (indiferenciada), eterna, que É e Não é, concedeu o princípio masculino que no mundo é chamado de Brahmâ….Aqui encontramos, como em todos os sistemas  filosóficos genuínos, mesmo o “Ovo” ou o Círculo (ou Zero), Infinidade sem fronteiras, referida como Isso, e Brahmâ, a primeira única unidade, referida como o deus masculino, isto é, o Princípio frutificador. É ou 10 (dez) a Década. No plano do septenário ou somente nosso Mundo, é chamado Brahmâ. No da Década Unificada no universo da Realidade, este Brahmâ masculino é uma ilusão.

Brahmâ no Hamsa. Public Domain

(14.) “Do Eu (âtmanah) ele criou a mente, (1) que é e não é; (2) e da mente, o Ego-ismo (Auto-Consciência) o soberano; (3) o Senhor Supremo.”

1. A mente é Manas. Medhâtiti, o comentador, justamente observa aqui que é o reverso disto e já mostra a interpolação e a reformulação; pois é Manas que brota de Ahamkara ou Auto-Consciência (Universal), como Manas no micro-cosmos brota de Mahat, ou Maha-Buddhi (Buddhi, em homem). Manas é dual e conforme é mostrado e traduzido por Colebrooke, “serve ambos sensação e ação, é um órgão por afinidade, que está em estreita relação com o resto.” “O resto” significa, aqui, que Manas, o nosso quinto princípio (o quinto, porque o corpo foi considerado o primeiro, contrariamente à verdadeira ordem filosófica) está em afinidade quer com Atma-Buddhi quer com os quatro princípios inferiores. Daí, o nosso ensinamento: nomeadamente, que Manas segue Atma-Buddhi para o Devachan, e que o inferior (sedimentos, o resíduo de) Manas permanece com Kama rupa, no Limbo, ou Kama-loka, a morada das “Cascas Astrais”.

2. Tal é o significado de Manas, que “é, e não é.

3. Medhâtithi tradu-lo como “a consciência do Eu,” ou Ego, e não governante como fazem os Orientalistas. Eles traduzem da seguinte forma o verso

16: “Ele, tendo dotado as partes subtis daqueles seis (O Grande Eu e os cinco órgãos dos sentidos) de luminosidade desmedida, para entrar nos elementos do Eu (Atmamâtrâsu) criou todos os seres.”

Quando, de acordo com Medhâtiti, deveria ler mâtra-Chit em vez de “Atmamâtrâsu,” e assim a dizer que:

“Ele tendo impregnado as partes subtis daqueles seis de luminosidade desmedida, por elementos do Eu, criou todos os seres.”

Esta última leitura deve ser a correta, desde que ele, o Eu, é o que chamamos Atmâ, e assim constitui o sétimo princípio, a síntese dos “seis”. Tal é também a opinião do editor de Mânava-dharma Shâstra, que com a sua intuição parece ter ido mais fundo no espírito da filosofia do que o tradutor dos “Decretos de Manu”, o Dr. Burnell, já que ele hesita pouco entre o texto de Kulluka e os Comentários de Medhâtiti. Rejeitando o tanmâtra, ou elementos subtis, e o âtmamâtrâsu de Kulluka, ele diz, apelando aos princípios do Eu Cósmico: “o seis parece ser o manas mais os cinco princípios do Éter, ar, fogo, água, terra;” “tendo-se unido cinco destas seis partes com o elemento espiritual (o sétimo) ele criou(assim)  todas as coisas existentes”; âtmamâtra é, portanto, o átomo espiritual, como oposição ao elementar, “elementos do próprio” não reflexivos.”  Deste modo, ele corrige a tradução do verso –“17. Como os elementos subtis das formas corporais do Uno dependem destes seis, então os sábios chamam à sua forma çarira” (sharira) – e ele diz que “Elementos” significa aqui porções ou partes (ou princípios), cuja interpretação é confirmada pelo verso 19, que diz:

“19. Este (Universo) não-eterno ergue-se, pois, a partir do Eterno, por meio dos elementos subtis das formas daqueles sete princípios gloriosíssimos” (purusha).

Comentando isto, de acordo com Medhâtiti, o editor menciona que “os cinco elementos mais a mente (Manas) e a Auto-Consciência (Ahamkara) têm de ser”; “elementos subtis,” (significando) como antes “cinco porções de forma” (ou princípios). O verso 20 mostra-o, referindo que estes cinco elementos, ou cinco porções da forma” (rupa, mais Manas e Auto-Consciência), constituem a “sétima purusha,” ou princípios, chamados os “Sete Prâkritis” nas Purânas.

Além disso, estes “cinco elementos” ou “cinco porções” são referenciadas no verso 27 com “as chamadas de porções atómicas destrutíveis” – portanto “distintos dos átomos do nyâna.”

Brahmâ. Wikipedia

Este Brahmâ criador, que decorre do Ovo do Mundo ou de Ouro, une em si próprio ambos os princípios masculino e feminino. Ele é, resumindo, o mesmo que todos os Protólogos criadores. De Brahmâ, contudo, não poderia dizer-se, como de Dionisos: “πρωτόγονον διφυῆ τρίγονον Βακχεῖον ῞Ανακτα ῞Αγριον ἀρρητὸν κρύφιον δικέρωτα δίμορφν” – um Jeová lunar – Baco verdadeiramente, com David dançando desnudo ante o seu símbolo na arca – porque nenhumas Dionisíacas licenciosas foram alguma vez estabelecidas em seu nome e honra. Tal adoração pública era exotérica, e os grandiosos símbolos universais foram desvirtuados universalmente, como o são agora os de Krishna pelos Vallabachâryas de Bombaim, os seguidores do deus criança. 

Mas são estes deuses populares a verdadeira Deidade? São eles o Apex e a síntese da sétupla criação, incluído o homem? Nunca! Cada um e todos são um dos degraus dessa escada septenária da Consciência Divina, tanto pagãos como Cristãos. De Ain-Soph também se diz que se manifesta através das Sete Letras do nome de Jehova a quem, tendo usurpado o lugar do Ilimitado Desconhecido, foi dado, pelos seus devotos, os seus Sete Anjos da presença – Os seus Sete Princípios. Efetivamente, são mencionados em quase todas as escolas. Na pura filosofia Sankhya mahat,  ahamkara e os cinco tanmâtras são chamados os sete Prakritis (ou Naturezas), e são contados desde Maha-Buddhi ou Mahat até à Terra. 

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